Estive
em Goiânia-GO neste final de semana e tive a oportunidade de fazer
uma imersão aos sabores do Cerrado. Mais do que isso, tive a
oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas, que me ensinaram, com
seu jeito simples, muito mais do que receitas e temperos. Com extrema
generosidade, me ensinaram, mesmo sem saber que estavam fazendo isso,
que o maior segredo da comida goiana não esta só nos ingredientes
regionais, mas na forma de fazer, no carinho, no ato de compartilhar,
na atenção aos detalhes e em cada segredinho passado, carregado de
história e tradição.
O
sabor goiano está no dividir, na tradição da mesa posta e farta,
compartilhada com a família e os amigos, e na satisfação de ver
todos felizes e satisfeitos. Os elogios inevitáveis são
consequência dessa experiência completa, de fazermos juntos e para
os outros, numa doação incondicional de amor, como se estivéssemos
massageando delicadamente o coração de cada um, com as nossas
próprias mãos.
Não
posso deixar de agradecer e homenagear aqui, três mulheres
fantásticas que me proporcionaram esta experiência maravilhosa, que
irei incorporar não só na minha culinária, como também na minha
vida como um todo. Elas foram muito mais do que professoras, na sua
sabedoria adquirida pela vida, foram exemplos de generosidade, de
amor pelo que fazem e pelo outro, dedicação, desprendimento e
amizade. Muito obrigado Dona Vilma, Dona Divina e Rosangela, vou
levar pra sempre comigo o carinho e os ensinamentos que vocês me
deram.
Sobre
os ingredientes e pratos que tivemos a oportunidade de fazer, temos:
- Linguiça suína feita artesanalmente, com temperinho goiano. Desse ingrediente foram feitos: linguiça grelhada, linguiça com cará e arroz com linguiça, tudo maravilhoso;
- Guariroba (ou gueroba, como as vezes o chamam) que é uma espécie de palmito da palmeira de mesmo nome, que tem um gosto levemente amargo, justificando seu nome de origem tupi que significa “indivíduo amargo”. Se comido ao natural é muito amargo, mas se feito o processo correto de preparo, o amargor é quase imperceptível. Dele fizemos salada, um Arroz com Guariroba e uma conserva;
- Pequi, fruto tipicamente goiano, muito perfumado, de polpa macia e saborosa. Entretanto, ele tem uma particularidade muito importante, deve ser comido com bastante cuidado, uma vez que sua polpa recobre uma camada de finos espinhos que, se mordidos, fincam-se na língua e no céu da boca, provocando graves ferimentos. Portanto, ele deve ser comido com as mãos mesmo, sem talheres. Quando levado a boca deve-se “roer o fruto”, isto é, raspá-lo cuidadosamente com os dentes, até que a parte amarela comece a ficar esbranquiçada e parar antes que os espinhos possam ser vistos. Desse fruto, fizemos somente o “Molho”, como é chamado o prato. Na verdade ele é refogado e cozido inteiro, e conforme seu cozimento se aproxima do ideal, ele vai engrossando o caldo, deixando-o um molho encorpado. Foi servido como guarnição;
- Também fizemos uma Galinhada Goiana fantástica, saladinhas e, pra fechar com chave de ouro, eu e meu amigo Frank, que me “intimou” a conhecer a culinária goiana e agradeço muito à ele por isso, fizemos um Escondidinho de Batata Salsa (é o nome que eles dão à mandioquinha) com Carne de Sol (feita artesanalmente em uma casa de carnes da região). Ficou ótimo, o pessoal todo elogiou;
Um
ponto alto da visita à Goiânia foi conhecer a Panelinha, um prato
típico da região. Me falaram demais dessa Panelinha, que tem em
todo canto de Goiânia e que existem de vários tipos, mas a melhor
era de um Bar-restaurante chamado 1008. Realmente, não exageraram
nem um pouco na propaganda. É danado de bom, ou como eles gostam de
falar: “Pense num negócio bão?”. Aliás, exagero são as
porções do lugar, só vendo. Pra ter uma ideia estávamos em 9,
pedimos uma Panelinha e uma Carne de Sol, todos comeram e repetiram e
ainda levamos pra casa duas “quentinhas” enormes. Não é à toa
que a casa vive cheia. A comida é excelente e farta e a cerveja
geladíssima. Levo comigo uma ótima experiência desse lugar.
Outro coisa muito interessante é que você pode conhecer os sabores das frutas do Cerrado através do sorvete, nada mais coerente, pra um lugar em que as temperaturas giram acima dos 30°C. Visitamos algumas vezes o “Frutos do Brasil”, uma sorveteria que tem sabores inusitados, além dos tradicionais. São frutos como: araça, araticum, brejaúba, buriti, cagaita, gabiroba, jatobá, mamacadela, mangaba, murici, mutamba, pequi, seriguela, tamarindo, umbu, só pra citar algumas. É muita diversidade.
Mais
uma vez, obrigado Frank, Dona Vilma, Divina, Rosangela e todos que me
receberam com tanto carinho e generosidade. Enfim, foi uma
experiência singular, que eu gostaria de compartilhar e deixar
registrado aqui. Aliás, como já disse, o compartilhar e o estar
junto em volta do fogão, ou de uma mesa, é a essência de uma
culinária simples, mas de muitos sabores. Essa generosidade de
dividir o saber, o viver e o conviver é o melhor tempero dessa
“Comida Caipira Goiana” e potencializa o sabor do que é servido
no prato. “Pense num negócio bão?”!