segunda-feira, 23 de setembro de 2013

VIAGEM AOS SABORES DE GOIÁS

Estive em Goiânia-GO neste final de semana e tive a oportunidade de fazer uma imersão aos sabores do Cerrado. Mais do que isso, tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas, que me ensinaram, com seu jeito simples, muito mais do que receitas e temperos. Com extrema generosidade, me ensinaram, mesmo sem saber que estavam fazendo isso, que o maior segredo da comida goiana não esta só nos ingredientes regionais, mas na forma de fazer, no carinho, no ato de compartilhar, na atenção aos detalhes e em cada segredinho passado, carregado de história e tradição.

O sabor goiano está no dividir, na tradição da mesa posta e farta, compartilhada com a família e os amigos, e na satisfação de ver todos felizes e satisfeitos. Os elogios inevitáveis são consequência dessa experiência completa, de fazermos juntos e para os outros, numa doação incondicional de amor, como se estivéssemos massageando delicadamente o coração de cada um, com as nossas próprias mãos.

Não posso deixar de agradecer e homenagear aqui, três mulheres fantásticas que me proporcionaram esta experiência maravilhosa, que irei incorporar não só na minha culinária, como também na minha vida como um todo. Elas foram muito mais do que professoras, na sua sabedoria adquirida pela vida, foram exemplos de generosidade, de amor pelo que fazem e pelo outro, dedicação, desprendimento e amizade. Muito obrigado Dona Vilma, Dona Divina e Rosangela, vou levar pra sempre comigo o carinho e os ensinamentos que vocês me deram.

Sobre os ingredientes e pratos que tivemos a oportunidade de fazer, temos:

  • Linguiça suína feita artesanalmente, com temperinho goiano. Desse ingrediente foram feitos: linguiça grelhada, linguiça com cará e arroz com linguiça, tudo maravilhoso;

  • Guariroba (ou gueroba, como as vezes o chamam) que é uma espécie de palmito da palmeira de mesmo nome, que tem um gosto levemente amargo, justificando seu nome de origem tupi que significa “indivíduo amargo”. Se comido ao natural é muito amargo, mas se feito o processo correto de preparo, o amargor é quase imperceptível. Dele fizemos salada, um Arroz com Guariroba e uma conserva;



  • Pequi, fruto tipicamente goiano, muito perfumado, de polpa macia e saborosa. Entretanto, ele tem uma particularidade muito importante, deve ser comido com bastante cuidado, uma vez que sua polpa recobre uma camada de finos espinhos que, se mordidos, fincam-se na língua e no céu da boca, provocando graves ferimentos. Portanto, ele deve ser comido com as mãos mesmo, sem talheres. Quando levado a boca deve-se “roer o fruto”, isto é, raspá-lo cuidadosamente com os dentes, até que a parte amarela comece a ficar esbranquiçada e parar antes que os espinhos possam ser vistos. Desse fruto, fizemos somente o “Molho”, como é chamado o prato. Na verdade ele é refogado e cozido inteiro, e conforme seu cozimento se aproxima do ideal, ele vai engrossando o caldo, deixando-o um molho encorpado. Foi servido como guarnição;




  • Também fizemos uma Galinhada Goiana fantástica, saladinhas e, pra fechar com chave de ouro, eu e meu amigo Frank, que me “intimou” a conhecer a culinária goiana e agradeço muito à ele por isso, fizemos um Escondidinho de Batata Salsa (é o nome que eles dão à mandioquinha) com Carne de Sol (feita artesanalmente em uma casa de carnes da região). Ficou ótimo, o pessoal todo elogiou;

Um ponto alto da visita à Goiânia foi conhecer a Panelinha, um prato típico da região. Me falaram demais dessa Panelinha, que tem em todo canto de Goiânia e que existem de vários tipos, mas a melhor era de um Bar-restaurante chamado 1008. Realmente, não exageraram nem um pouco na propaganda. É danado de bom, ou como eles gostam de falar: “Pense num negócio bão?”. Aliás, exagero são as porções do lugar, só vendo. Pra ter uma ideia estávamos em 9, pedimos uma Panelinha e uma Carne de Sol, todos comeram e repetiram e ainda levamos pra casa duas “quentinhas” enormes. Não é à toa que a casa vive cheia. A comida é excelente e farta e a cerveja geladíssima. Levo comigo uma ótima experiência desse lugar.

Outro coisa muito interessante é que você pode conhecer os sabores das frutas do Cerrado através do sorvete, nada mais coerente, pra um lugar em que as temperaturas giram acima dos 30°C. Visitamos algumas vezes o “Frutos do Brasil”, uma sorveteria que tem sabores inusitados, além dos tradicionais. São frutos como: araça, araticum, brejaúba, buriti, cagaita, gabiroba, jatobá, mamacadela, mangaba, murici, mutamba, pequi, seriguela, tamarindo, umbu, só pra citar algumas. É muita diversidade.

Mais uma vez, obrigado Frank, Dona Vilma, Divina, Rosangela e todos que me receberam com tanto carinho e generosidade. Enfim, foi uma experiência singular, que eu gostaria de compartilhar e deixar registrado aqui. Aliás, como já disse, o compartilhar e o estar junto em volta do fogão, ou de uma mesa, é a essência de uma culinária simples, mas de muitos sabores. Essa generosidade de dividir o saber, o viver e o conviver é o melhor tempero dessa “Comida Caipira Goiana” e potencializa o sabor do que é servido no prato. “Pense num negócio bão?”!