Por Edson Gallo
A
docência é uma atividade gratificante para mim. Poder compartilhar
conhecimento, experiências, sejam positivas ou negativas, pontos de
vista, sempre me trouxeram enorme satisfação, principalmente quando
tenho oportunidade de falar sobre algo que tenho paixão, a
Gastronomia Brasileira. E o melhor de tudo é que, ao longo do
processo, acabamos aprendendo muito também e fazendo bons amigos. É
uma relação contínua de troca, em que damos um pouco de nós, na
forma de conhecimento, e recebemos carinho, brilho nos olhos e, por
não, conhecimento de volta.
Nos
dias 14 e 15 passados, tive a oportunidade de falar sobre Gastronomia
Brasileira, nos cursos abertos dos Mercados Municipais da Lapa e
Penha, respectivamente. Foi muito bom passar uma tarde agradável com
os alunos do curso, falando de história, técnicas, receitas e
mostrando como um prato simples da nossa culinária pode ganhar
status de requinte, com uma apresentação bem cuidada.
A
seguir disponibilizo algumas fotos dos eventos e o texto da apostila, com as
receitas...
Bom
proveito!
MERCADO DA LAPA - ANIVERSÁRIO DE 59 ANOS
Galinhada
Dueto de Escondidinho de Carne Seca
Cartola
MERCADO DA PENHA - QUINTA-FEIRA (15/08)
Galinhada
Dueto de Escondidinho com Carne Seca
Cartola
TEXTO DA AULA
GALINHADA
A
origem desse prato é carregada de controvérsias. Muitos estados
requerem sua origem, ou têm sua própria versão de Galinhada, cada
qual com suas características particulares e a introdução de
ingredientes peculiares da sua região, mas em todos os casos, os
ingredientes básicos são: galinha e arroz. O certo é que as
primeiras galinhas chegaram ao Brasil em 1532, trazidas por Martim
Afonso de Souza para a Capitania de São Vicente. Os portugueses à
muito já faziam uso da galinha, bem como de seus ovos, em vários
pratos da sua culinária e introduziram seu consumo no Brasil.
Com
os movimentos das missões jesuítas e das entradas para o interior
pelos bandeirantes, em busca de riquezas, foi-se disseminando novos
hábitos, associados aos costumes indígenas, novas vilas foram se
formando, no que é hoje o estado de São Paulo, e novos pratos foram
surgindo dessa miscigenação.
Mais
tarde, primeiro pelas mãos dos bandeirantes que desbravaram as
terras e encontraram o ouro que tanto procuravam, depois pelos
inúmeros tropeiros, vindos principalmente de São Paulo, na corrida
pelo ouro das minas, onde hoje é o estado, não à toa, chamado de
Minas Gerais.
A
herança cultural e culinária paulista foi rapidamente incorporada
às vilas mineiras, que foram se formando entorno da exploração dos
minérios, e muitos pratos estão presentes nas duas culturas, entre
eles a galinhada, tão presente no interior paulista, mas que ganha
sobrenome em Minas (galinhada mineira), o mesmo ocorrendo em Goiás
(galinhada goiana).
Mas
a galinhada também esta presente fortemente no nordeste, segundo
local em que se introduziu a criação de animais para subsistência
(entre eles a galinha), devido ao grande desenvolvimento das lavouras
de cana-de-açúcar e implantação dos engenhos, que sustentou por
muito tempo a economia do Brasil-colônia e que favoreceu o
crescimento da região. Com a notícia da descoberta das minas de
ouro, muitos sertanejos nordestinos se embrenharam para o interior,
em direção a região das minas, em busca do eldorado mineiro,
influenciando também a cultura e costumes culinários do local.
Portanto,
a galinhada é um patrimônio da cultura culinária brasileira, não
importando se ela nasceu nas missões jesuítas, ou com os
desbravadores bandeirantes que abriram caminhos no interior do país,
ampliando as fronteiras brasileiras, ou ainda com os expedicionários
tropeiros que se aventuravam por caminhos sinuosos, levando e
trazendo riquezas da época, ou por último, com os sertanejos
nordestinos que se embrenharam mata adentro em busca de uma vida
melhor nas minas de ouro.
Enfim,
o que fica dessa história toda é que um prato simples, mas
extremamente saboroso, da nossa culinária, que atravessou os séculos
e ganhou várias versões por todo Brasil, ainda mostra muito fôlego
e ganhou notoriedade nas mãos de um dos nossos maiores nomes da
gastronomia brasileira, Alex Atala. Ele fez da galinhada um evento
das madrugadas de sábado no seu restaurante Dalva e Dito, nos
Jardins, e um acontecimento de grande repercussão dentro do evento
Virada Cultural de 2012, onde milhares de pessoas se aglomeraram no
Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, no Centro de São
Paulo, em busca de uma das porções dessa iguaria.
Ingredientes
2
kg Frango à passarinho
3
xic Arroz
3
und Cebola
5
und Alho
30
g Açafrão da terra (cúrcuma)
1
lata Milho verde
2
und Caldo de galinha
2
unid Louro
½
mç Cheiro-verde (salsa e cebolinha)
¼
mç Coentro
¼
mç Tomilho
1
unid Limão
1
unid Pimenta dedo-de-moça
1
unid Pimentão Verde
1
unid Pimentão Vermelho
1
lata Milho Verde
Azeite
suficiente para fritar/refogar
Sal e
Pimenta do Reino à gosto
Acompanhamentos
250
g Quiabo
½
mç
Couve-manteiga
60g Farinha de Mandioca
ou Farinha D'água
Modo
de preparar:
1. Temperar
o frango com limão, sal, pimenta do reino, tomilho e 2 dentes de
alho. Deixar o frango no tempero por, no mínimo, 1 hora;
2. Numa panela, colocar 2 litros de água e o caldo de galinha. Deixar
ferver e baixar o fogo;
3. Numa
panela grande, aquecer o azeite de oliva para dourar a cebola e o
alho. Adicionar a pimenta, coentro e louro, e depois os pedaços do
frango. Deixar dourar por todos os lados.
4. Feito
isso, cobrir com o caldo de galinha e deixar cozinhar por uns 20
minutos;
5. Retirar
3 conchas do caldo do cozimento e reservar;
6. Juntar
o arroz, o açafrão e o restante do caldo de galinha (se não for
suficiente, adicionar mais água, para cobrir os ingredientes) e
deixar cozinhar;
7. No
meio do cozimento, acrescentar os pimentões em cubos e o milho;
8. Quando
o arroz e o frango estiverem cozidos, adicionar a salsa e cebolinha e
desligar o fogo;
9. Fazer
um pirão com o caldo do cozimento reservado e a farinha de mandioca;
Refogar o quiabo e refogar a couve-manteiga, com alho e azeite e sal;
10. Montar
o prato e servir.
ESCONDIDINHO DE CARNE SECA
Escondidinho
é um prato bastante popular nos estados brasileiros do Nordeste e
Minas. A ideia é simples: uma deliciosa surpresa escondida dentro de
um recheio. Com essa receita, o prato ficou conhecido no Brasil como
“escondidinho”. Sua origem, no entanto, é um tanto quanto
controversa. Alguns acreditam que a receita tenha sido criada em
Pernambuco, para
outros, o prato tem origem portuguesa, já que foram os lusitanos que
trouxeram ao país a técnica para salga e dessalga da carne seca.
É
feito originalmente com carne-seca, ou carne-de-sol, mas têm
variações com outros recheios, como carne moída, frango desfiado,
entre outros, temperada com manteiga de garrafa, coberto com purê de
macaxeira (mandioca, ou aipim, dependo da região) e gratinada e com
queijo de coalho.
Ingredientes
1kg
Mandioca cozida;
500g
Carne-seca;
250ml Leite
integral;
100g Manteiga
sem sal;
350g Requeijão
cremoso;
2unid Cebola-roxa
em rodelas finas;
50g Manteiga-de-garrafa;
100g
Queijo-de-coalho ralado;
Sal
e pimenta branca à gosto.
Modo
de preparo
1. Amasse
a mandioca com um espremedor de batatas e retire os talos;
2. Junte
o leite aos poucos até ter um purê firme;
3. Finalize
com a manteiga, pimenta branca e o sal. Reserve;
4. Puxe
a carne-seca com a manteiga-de-garrafa e a cebola roxa. Reserve.
Montagem
e Finalização
1. Espalhe
uma camada fina de purê no fundo de uma assadeira;
2. Distribua
o recheio de carne-seca uniformemente;
3. Cubra
com o requeijão e por cima o restante do purê;
4. Finalize
com o queijo-de-coalho ralado e asse a 200º até dourar.
CARTOLA
Doce brasileiro, típico de
Pernambuco, tem origem nas casas-grandes dos engenhos. Pela Lei
13.751, de Abril de 2009, foi reconhecido como Patrimônio Imaterial
de Pernambuco.
O
cartola tem um valor simbólico e uma carga histórica muito rica.
Composto de banana, açúcar, canela e queijo manteiga, traz em si
uma síntese da sociedade colonial no século XVI, representando a
união de raças e a dinâmica econômica desse período.
Primeiro,
quase que toda mão-de-obra estava voltada para a produção do
açúcar, ficando pouco recursos humanos para se dedicar a lavoura de
subsistência.
Mas
o principal era a falta de hábito das senhoras portuguesas com os
novos ingredientes, que os trópico ofereciam, tendo elas que
abdicarem de costumes alimentares fortes.
As
cozinhas eram desacopladas das Casas-Grandes, em puxados construídos
longe dos quartos e salas, hábitos copiados dos escravos e índios,
também tiveram que aposentar os fogões e chaminés de estilo
Francês, utilizando novos métodos de assar por moquém tipo de
grelha confeccionada com paus.
Apesar
de haver abundância de árvores frutíferas, não era de costume
consumir frutas frescas, então a solução era mergulhar as frutas
no açúcar, para a sua conservação.
Acredita-se
que venha desse jeito de conservar as frutas que tenha surgido um dos
ingredientes do cartola (a banana açucarada), as senhoras tentavam
adicionar alguns elementos da sua culinária tal como a canela, para
satisfazer os paladares saudosos do velho continente.
Finalmente
o queijo manteiga, já conhecido dos africanos que era largamente
utilizada nas cozinha coloniais, era produzido no sertão, tem alguns
autores que dizem, com toda razão, que a culinária nordestina é o
“encontro do sertão com o mar”.
Não
se sabe precisamente, aonde o cartola foi criado e nem sua autoria,
ele nos chega aos dias de hoje, com seu sabor carregado de história
e se mantém intacto tal como foi concebido, sendo testemunha viva do
modo vida dos que habitavam o Brasil, nos primeiros tempos da
colonização portuguesa.
Ingredientes
Bananas
nanicas cortadas ao meio, no sentido do comprimento;
Queijo de coalho, ou manteiga, em fatias de 1,5 cm de espessura;
Açúcar e canela em pó misturados a gosto;
Manteiga para fritar as bananas.
Queijo de coalho, ou manteiga, em fatias de 1,5 cm de espessura;
Açúcar e canela em pó misturados a gosto;
Manteiga para fritar as bananas.
Modo
de preparo
1. Numa
frigideira frite as fatias de bananas na manteiga, deixe ficar bem
douradas e molinhas;
2. Coloque
em seguida no prato em que vai servir;
3. Derreta
as fatias de queijo e ponha por cima das bananas;
4. Polvilhe
com a mistura de açúcar e canela, sirva em seguida.