Por Edson Gallo
Que
a Gastronomia é um componente importante da cultura de qualquer
povo, participando da sua identidade, isso ninguém pode negar. Mas
ainda há muito a fazer quando inserimos a Gastronomia como produto
turístico.
A
atração turística cultural já é reconhecida pela Organização
Mundial do Turismo, quando distingue os recursos como meios humanos,
energéticos e materiais que uma coletividade dispõe, ou pode
dispor. Tais recursos (incluindo a Gastronomia) são considerados
recursos turísticos a partir do momento em que são capazes de
atrair turistas tornando possível a atividade turística. Assim
sendo, o Turismo Gastronômico, entra como mais um produto, ou
ainda, como um diferencial na oferta turística de um destino.
É
muito comum na Europa viajar quilômetros para ir a um bom
restaurante, ou ainda, visitar algum destino turístico para apreciar
suas iguarias típicas. Este é o caso, por exemplo, do El Bulli,
localizado em Roses, na Costa Brava espanhola, à 150 quilômetros de
Barcelona, famoso restaurante de Ferran Adriá, eleito por cinco
vezes o melhor do mundo, mas que encerrou suas atividades em 2011 e
se transformou numa fundação, atraía inúmeras pessoas de vários
cantos da Espanha e até do mundo, que viajavam para apreciar a arte
do chef catalão. Este é só um exemplo de inúmeros outros que
existem pela Europa e que fazem sucesso, porque o povo de lá viaja
atrás de boa comida e bom vinho.
Já
no Brasil, o Turismo Gastronômico é insipiente, mas tem potencial.
É certo também que temos nossas dificuldades: nosso povo não é
muito adepto a viajar quilômetros somente para ir à um restaurante,
também não se sente muito encorajado de fazer isso pelo
custo-Brasil, isto é, combustível caro, cobranças excessivas de
pedágios em algumas estradas e péssimas condições em outras, sem
dizer do tamanho continental de nosso país. Tudo isso não colabora
muito e torna a experiência, no mínimo, muito cansativa. Mas muito
se pode fazer e torna o Turismo Gastronômico numa alternativa
interessante para algumas regiões, inserindo-as como destinos
turísticos, gerando empregos e renda para essas regiões. O exemplo
a seguir mostra que isso é possível de ser alcançado.
No
domingo, dia 04, eu, o Adonay Donley e Peter Takagi, todos do
QUARTETO Gastronomia
Brasileira (só faltou o
Gustavo Oliver, que não pode ir porque estava trabalhando no Esquina
Mocotó) e nossa amiga Cris Bravim, estivemos no Restaurante do Seu
Ocílio Ferraz (http://www.restaurante.ocilioferraz.com),
em Silveiras, interior de São Paulo (pouco mais de 200 quilômetros
da capital), cidade de grande valor histórico, encostada na Serra da
Bocaina, que nasceu, ganhou fama e importância em torno dos
tropeiros, que a incluíram na trilha do ouro para Minas Gerais.
Silveiras também foi palco de batalhas sangrentas em duas
revoluções: Liberal de 1842 e Constitucionalista de 1932.
Seu
Ocílio Ferraz (http://www.blog.ocilioferraz.com),
além de grande anfitrião, é sociólogo, professor, culinarista,
escritor, pesquisador, empreendedor e membro da Academia Brasileira
de Gastronomia, simplesmente uma figura de muitas facetas. Ele tem
importância fundamental para a cidade, através dos seus trabalhos
de pesquisa, sua obra literária (com uma coleção na Biblioteca do
Congresso Norte Americano), seu esforço na divulgação da cultura e
culinária tropeira e de uma iguaria singular da região, a Iça
(formiga tanajura, fêmea da saúva,) muito utilizada na alimentação
pelos índios, que ali habitaram, e depois passado aos bandeirantes e
tropeiros, virou ingrediente típico da Comida Caipira e Tropeira,
referenciada por escritores como Monteiro Lobato e Maurício de
Sousa, e utilizada por chefs importantes da Gastronomia Brasileira,
como a Chef Mara Sales (Tordesilhas) e o próprio Ocílio Ferraz, em
seu restaurante. Aliás, seu restaurante serve uma comida típica
tropeira maravilhosa, onde a famosa Farofa de Iça é apenas uma das
delícias servidas no local.
O
local ainda conta com uma Cozinha Pedagógica, onde pode-se aprender
a Culinária Tropeira e Regional, uma Biblioteca, onde funciona o
núcleo de pesquisas acadêmicas, um Espaço Cultural “Rancho do
Ventura”, que funciona como sala de aula, onde tem as Ocas, além
de uma bela horta, de onde se colhe os legumes e verduras utilizados
no restaurante.
Vejam
que, embora tivéssemos tido todos aqueles inconvenientes citados
anteriormente (combustível, pedágios, estradas, cansaço, etc.),
foi uma experiência maravilhosa de conhecimento, boa comida, bom
clima, boa prosa, boa música, tudo num único lugar, o restaurante,
sem que tivéssemos visitado as outras atrações turísticas da
cidade (isso fica para uma próxima oportunidade).
Este
comportamento do Seu Ocílio, de divulgação da cultura da região,
da sua história, dos seus atrativos, apoiado pela comunidade, trás
benefícios não só para ele, mas para a cidade como um todo, além
de nos presentear com uma comida saborosa de raiz, feita em fogão de
lenha.
A
missão do QUARTETO
Gastronomia Brasileira é
essa, de pesquisa e divulgação da nossa culinária regional
brasileira, seja através de nossas publicações, ou dos nossos
eventos, inserida em nossos cardápios, nos trabalhos de pesquisa,
nas aulas e palestras, enfim, em tudo que se possa expressar esse
orgulho da nossa terra.
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